quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Quem Matou o Sistema de Saúde?"

Líderes do setor debateram o livro da economista da Harvard Regina Herzlinger que faz críticas contundentes ao sistema americano de saúde

Com um título original agressivo: Who Killed Health Care? ("Quem Matou o Sistema de Saúde?", na sigla em inglês), o livro, de autoria da economista e professora de Harvard Regina Herzlinger, é repleto de críticas à estrutura de saúde americana. A obra, no mínimo, pode ser considerada polêmica. Dessa forma, a IT Mídia promoveu um debate, nesta quinta-feira (04), em São Paulo, entre quatro líderes do setor de saúde brasileiro para abordar as questões levantadas na obra.

De acordo com os participantes da discussão, a publicação questiona inúmeros aspectos importantes sobre o mercado de saúde. No entanto, todos concordaram que o livro é excessivamente crítico e, por vezes, ácido. Os presentes ao debate foram: Carlos Alberto Goulart (Presidente Executivo da Abimed); Henrique Sutton Neves (Diretor Geral do Hospital Albert Einstein); Francisco Balestrin (vice-presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados) e Paulo Marcos Senra Souza (Diretor da Amil).

Para a autora, os culpados pelos problemas da saúde dos EUA são: governo, hospitais, operadoras e acadêmicos. Todos estariam preocupados com os próprios interesses financeiros, segundo publicação.

Por meio de um personagem central, que sofre de problemas renais e precisa de um transplante, a autora explicita as distorções do setor, apontando a ausência dos médicos nas discussões políticas, os diversos lobbys que impendem inovações, as financiadoras que só buscam o lucro, entre outros.

"Os EUA é o país que mais gasta em saúde. Cerca de US$ 2 trilhões por ano, o equivalente ao PIB da China. E mesmo assim é completamente desintegrado", disse Souza.

Outro aspecto abordado pela Regina refere-se aos hospitais. Na opinião da professora, as entidades deveriam ser especializadas e não generalistas. "Aqui no Brasil o que prevalece são os hospitais generalistas. Do ponto de vista prático, isso tem uma razão econômica de ser", afirmou Neves.

A tecnologia em nenhum momento da obra se faz central. No entanto, a autora reconhece sua importância para a inovação do segmento.

Para o presidente da Abimed, essa questão trazida para o Brasil enfrenta sérios problemas. "Para um novo produto entrar no mercado é preciso aguardar em uma fila de pelo menos dois anos, pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisa emitir o certificado de boas práticas. Depois disso, espera-se mais dez meses para obter o registro. Com isso, podemos ter um apagão tecnológico no longo prazo", enfatizou Goulart.

A segunda parte do livro apresenta algumas soluções para o sistema. Uma delas consiste na formação de uma agência reguladora que consolide todas as informações das instituições de saúde em prol dos clientes (pacientes).

O livro descreve uma verdadeira guerra, onde os players da cadeia são os vilões. "Os médicos estão de fora dessa guerra, pois, na visão da autora, saem perdendo em termos de remuneração. E os pacientes são uma espécie de civis em tempos de guerra", disse Balestrin.